Prosa e Poesia

Três dias em Lima

Ana Mello


Talvez seja difícil imaginar o que levaria alguém a fazer uma viajem tão cara e distante para ficar apenas três dias. Nunca pensei que eu fosse vivenciar essa experiência e nem que tivesse tão pouco tempo para organizar tudo de maneira rápida e eficiente.

Fui ao Peru em companhia da minha cunhada para receber um seguro do meu marido que falecera sete meses antes em um acidente na cidade de Moquegua. Não consegui resolver a situação de nenhuma outra forma ou em tempo de não perder prazos legais sem ter que viajar.

Acabei assumindo a tarefa como um presente dele, me proporcionado essa ida a um país que ele tinha gostado tanto. Também tentei conseguir um prazo maior e foi impossível. Só pude aproveitar o feriado de uma segunda feira no Brasil que não era feriado no Peru e por isso me possibilitou um dia útil em Lima, para resolver tudo na seguradora, banco e consulado.

Com a ajuda do cônsul brasileiro que usou sua influência para cronometrar minhas tarefas e colocou um motorista de aplicativo da confiança da sua esposa a nossa disposição.
Até o fuso e o horário de verão conspiraram a nosso favor. Saímos daqui sábado de manhã cedo e chegamos lá quase na mesma hora de nossa saída do Brasil. O motorista era muito simpático e foi falando tudo da cidade no caminho do nosso hotel. Como eu tinha estudado todos os caminhos possíveis e curiosidades de Lima, ele propôs um preço especial para fazer um dia turístico nos levando aos principais pontos e até para algumas compras.

Foi um passeio lindo, cheio de explicações de um morador local, acostumado a carregar convidados do cônsul. Com direito a comidas típicas e muitas histórias locais.
No domingo ficamos por conta própria e fizemos passeios a pé, caminhamos muito e descobrimos coisas incríveis da cultura, do artesanato, das praças, falésias e tudo mais que pudemos fazer em um dia.

Os passeios turísticos são práticos e baratos e só não conseguimos ir ao Museu do Ouro por não ter encaixado em alguns minutos da chegada de um tour que fizemos.
A comida é maravilhosa e o Pisco, uma delícia. Nos sentimos seguras caminhado pela cidade, inclusive a noite. Claro que não saímos das ruas centrais e nem invadimos a madrugada.
O cônsul foi muito prestativo o tempo todo, desde o primeiro contato telefônico. Entendi que eles ajudam muitos turistas com problemas e que não é tão incomum ocorrerem óbitos em função da altitude e de falta de cuidados que as pessoas têm quando estão em férias.

A seguradora tinha deixado tudo pronto, um cheque, que o banco não queria trocar por eu não possuir passaporte. Aí, minha cunhada apelou para a gerente do banco contando nossa empreitada louca e que tínhamos que viajar para o Brasil naquela noite mesmo. Ameaçamos chamar o cônsul para nos socorrer, quase choramos, de verdade. Tudo resolvido. Dólares na bolsa e coração na mão.
Recolhemos os documentos necessários com direito a uma visita guiada pelo próprio cônsul no prédio do consulado. Ainda tivemos tempo para um bom almoço, café e descanso na praça dos gatos. Sim, uma praça onde os gatos vivem livremente, são alimentados, castrados e cuidados. As pessoas sentam e eles vêm se enrodilhar, curtir um carinho e uns petiscos.

A única coisa ruim de voltar a noite foi não poder curtir a maravilhosa vista da chegada ao Peru. Quanto ao resto, tivemos todo o apoio, tudo conspirou a nosso favor.
Acredito que a vida pode ser considerada uma grande viagem, com trechos ruins e outros bons, alguns muito difíceis, outros um paraíso. O que vale mesmo é o que vamos aprendendo, como vamos nos modificando e aproveitando as oportunidades.
A vida é uma viagem indizível, só vivendo para saber.

 

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